terça-feira, 15 de março de 2022

Canção da Flor

Eu sou como uma palavra gritada e repetida
Pela voz da Natureza
Eu sou uma estrela caída da

Manta azul sobre o carpete verde.
Eu sou a filha dos elementos
A qual foi concebida no inverno;
A qual nasceu na primavera; 
Cresci na brisa do verão e
Dormi no leito de outono.

Na aurora eu me junto à brisa
Para anunciar a chegada da manhã
Ao cair da tarde me junto aos pássaros
Para dar adeus à luz do Sol.

Os campos são decorados
Com minhas belas cores, e o ar
É perfumado pela minha fragrância.

Ao me render ao sono os olhos da
Noite me observam, e quando me
desperto, vejo o Sol, que é a
Única sentinela do dia.

O orvalho é meu vinho e ouço as
Vozes dos pássaros, e danço
Ao ritmo oscilante da relva.

Eu sou o presente dos namorados; sou a grinalda do casamento;
Eu sou a memóra do momento de felicidade;
Eu sou o último presente, aos que partem, dos vivos;
Eu sou parte da alegria e da tristeza.

Mas eu olho para o alto para buscar somente a luz,
E nunca para baixo para ver minha sombra.
Essa é a lição que o ser humano deve aprender.
 

 

(Gibran Khalil Gibran, ''Song of the Flower'' em Tears and Laughter, The Philosophical Library, New York, 1949). Tradução Marcos V. Gomes