terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Uma pequena tormenta

Para que ficar arrumando seus cabelos desgrenhados? Aí vem a tempestade que não pode ser detida - e você terá que vivenciá-la com todas as suas formas, ventos e falta de cores. Veja, já está cinza, venha, entre comigo e feche a porta. A janela, feche também. Aqui estaremos mais tranquilos, enquanto venta lá fora e a chuva molha o chão - não, essa é uma tormenta das fortes, o cheiro de terra molhada não existe, o vento não deixa, não lamente por isso.

Se assopram lá fora os ventos, aqui continuamos secos, o seu cabelo molhou só um pouquinho. Está piscando a luz, parece que teremos blecaute. Feito. Não está tão escuro assim, logo ela volta, talvez em duas horas. Eu sei que você me abraça não por causa da tormenta lá fora, ela está mais dentro do que fora...ela está em você, não é? Mas não se aflija, assim como a tormenta de chuva, a sua, a nossa irá cessar também.

Eu lembro sim, que quando criança você tinha medo das tempestades e dos relâmpagos...e que se escondia sob o edredom, pensando estar protegida. Então nós crescemos e não mais nos escondemos da tempestade lá fora, mas daquela que sempre surge dentro de nós...aquela que não pode ser medida, antecipada pela previsão do tempo da TV, aquela imprevista que ninguém nota e que deixa nossa alma revolta muito mais do que os cabelos na chuva de agora. Sei que você fica frustrada porque ninguém nota sua tormenta interior, mas eu noto, eu estou aqui aguardando que ela passe para que você, junto a mim, possa sair e contemplar a renovação que te espera.

Veja, voltou a luz e o vento cessou. Abra a janela e a porta também. Foi uma chuva passageira, não foi? Não, parece que não há arco-íris no céu, em compensação a garotada já está correndo lá fora. Lembra de quando fazíamos isso, que felicidade era sair quando a chuva cessava? Eram as tardes mais felizes de nossas vidas. Vamos sair. Sim, claro que espero você arrumar seus cabelos. Eu não acho que está muito emaranhado não, mas se você acha...Você sabe que sou sincero e por isso digo que ele está bem alinhado. Já nem se nota nem um pouquinho que você estava aflita há alguns instantes atrás. Assim, vamos continuar o que íamos fazer antes da chuva. Ah, sim, eu não te contei, não é? Tenho uns bilhetes para o cinema. Eu sei que você gosta, por isso escolhi especialmente para ti. Me enganei, olha o arco-íris logo ali. É, é bonito sim. Vamos logo, senão perdemos a sessão da seis. 

Nenhum comentário: